Jornalistas gaúchas relatam suas experiências internacionais
No encontro virtual deste sábado, 27/3, a Live da Associação Riograndense de Imprensa – ARI teve como convidadas quatro jornalistas que trabalham fora do Brasil: Carol Matzenbacher (Nova Iorque/ EUA), Joana Colussi (Illinois/EUA), Maria Paula Carvalho (Paris) e Roselaine Wandscheer (Colônia/Alemanha), com mediação de Daniela Sallet e coordenação da jornalista Thamara de Costa Pereira.
O painel “As desgarradas” encerra a série de ‘lives’ “Jornalistas Inspiradoras – Mês da Mulher ARI”.
A transmissão pode ser conferida pelo www.facebook.com/ImprensaRS ou no link: https://www.youtube.com/watch?v=8oryZGFmrDA
Abaixo, um resumo do que foi debatido:
Carol Matzenbacher – disse que foi estudar em Indiana (EUA), em 2011. “A partir daí, voltei para o Brasil, me formei e voltei para os Estados Unidos, com o desafio de trabalhar na maior emissora brasileira (Rede Globo) em Nova Iorque”, onde fez faculdade de Jornalismo de Televisão. Disse que as jornalistas (deste encontro) têm algo incomum: “todas vieram para o exterior no momento que o Brasil estava enfrentando uma crise”.
Joana Colussi – fez mestrado em Agronegócio, nos Estados Unidos (EUA), em 2015. Ela chegou naquele país, dois meses antes da pandemia. “Por pouco que não pude entrar”. Salientou a capacidade do jornalista de se inserir em outras áreas. Em 2020 retornou para fazer doutorado e decidiu ficar mais tempo, quando surgiu a oportunidade de trabalhar no Departamento de Economia Agrícola. “Devemos deixar o velho para as novas oportunidades acontecerem”. Disse que está no coração agrícola, no meio oeste norte-americano, “no cinturão de grãos, de milho e soja, o melhor lugar que poderia estar para escrever sobre agronegócio”.
Maria Paula Carvalho – contou que em 2012 foi para Nova Iorque, depois de 15 anos de reportagem diária. Cursou conjuntura política na Universidade de Colúmbia, que serviu como base para o pensamento crítico e elaboração de novas pautas. “Queria explicar os conflitos mundiais e não apenas contar os mortos”. Participou de estudos latino-americanos e crescimento econômico. Voltou ao Brasil, cobriu os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, e daqui foi para Paris. Trabalha na Rádio França Internacional (RFI), que também é um portal de notícias, que produz matérias da Europa e do mundo para audiência em língua portuguesa.
Roselaine Wandscheer – em 1989 foi para a Alemanha, onde conheceu a Deutsche Welle (DW). “A situação no Brasil estava difícil”. Ela foi chamada para ficar três anos, inicialmente, mas se radicou definitivamente. É Editora Sênior na Deutsche Welle. Conta que quando foi para Alemanha, a DW era uma emissora de rádio, de ondas curtas, e que, em 1994, passou para internet. A emissora é uma empresa de Direito Público, sem ligação de dependência com o governo. “Com total autonomia editorial”, salientou. Hoje a emissora transmite em 30 idiomas e tem jornalistas de 140 países.
Sobre o que mais impactou no fazer jornalístico em outro país?
Carol respondeu que “foram vários desejos que se combinaram para buscar novas histórias, novos caminhos, que pareciam inatingíveis, mas que foi um desafio”.
Joana disse que não sentiu diferença dos programas Campo e Lavoura para o Globo Rural, “é basicamente a mesma coisa, especialmente a questão cultural”. Lembrou que, no começo, levava mais tempo para produzir as matérias, porque ainda não conhecia as fontes. Reparou que nos EUA há cursos de jornalismo científico, com estudo mais aprofundado, como no Departamento de Comunicação Agrícola. “No Brasil a gente se forma em jornalismo e vai para o mercado, aprender”, comentou.
Maria Paula falou que escreve sobre Europa, África, Ásia, do mundo para o Brasil. “Como se fosse uma novela do mundo, por isso precisamos estar bem informados sobre tudo o que acontece. Percebi que no Brasil a notícia é mais doméstica e tem pouca coisa internacional”, salientou.
Roselaine disse que os artigos da DW são analíticos, para as pessoas entenderem o porquê das coisas. E que estranhou ter que trabalhar com máquina de escrever quando chegou na Alemanha, porque na época da Zero Hora já estavam usando computador na redação. “Era um sistema rudimentar, mas era computador”, concluiu.

As desgarradas também falaram sobre a percepção da imprensa internacional em relação à pandemia no Brasil, a postura do governo brasileiro diante da crise. E sobre novos desafios e percepções, como: viajar e conhecer outros lugares; a produção de documentário sobre aquecimento global, respeito à natureza e aos povos indígenas; a força dos sindicatos, que são mais participativos e respeitados na Alemanha; a admiração e preocupação dos franceses em relação à questão ecológica no Brasil; e a importância do conhecimento, que torna a vida do jornalista mais facilmente adequada às novas realidades mundo afora. Além desses, houve outros comentários das profissionais que conhecem o Brasil, mas têm o olhar e a experiência de quem vive no chamado primeiro mundo.
Na sequência, a vice-presidente da ARI, Jurema Josefa, salientou a satisfação de dar continuidade ao evento Jornalistas Inspiradoras – Mês da Mulher ARI. Jurema anunciou que no próximo mês haverá outra edição das desgarradas, em virtude do número de jornalistas que demonstraram interesse em participar. “Esse mês de março é muito importante para que possamos refletir. Temos muitas diferenças ainda e somos preteridas algumas vezes, não só entre jornalistas, mas entre as mulheres em geral. Além disso, estamos celebrando os 85 anos da ARI, completados em dezembro de 2020.
No encontro virtual, o presidente do Conselho Deliberativo da ARI, Batista Filho, destacou a qualificação das jornalistas como agentes do conhecimento, com a generosa capacidade de distribuição da informação. “O jornalismo é imortal, porque traz a informação refletida, sentida, pensada e obrigatoriamente levada aos demais, como conhecimento distributivo e solidário”, finalizou.
Crédito texto e foto: Divulgação Associação Riograndense de Imprensa (ARI)